Há quem diga que partilhar objetivos é meio caminho andado para os concretizar. Mas... e se for ao contrário? E se contar ao mundo que vais mudar de vida, correr uma maratona, abrir uma empresa ou finalmente aprender a cozinhar só estiver a sabotar o teu progresso? Sabes aquele lema "o que ninguém sabe, ninguém estraga"? A ciência tem uma resposta curiosa: quanto mais falas sobre os teus planos, é menos provável que os cumpras.
Parece estranho, mas faz sentido - e está mais do que estudado. Quando partilhamos os nossos objetivos com outras pessoas, recebemos logo uma dose de validação: um "que fixe!", um "és mesmo ambicioso!" ou um "vai correr bem!". E o cérebro adora isso. Tão depressa ouve os elogios, como ativa aquela sensação de satisfação e realização... mesmo antes de termos feito alguma coisa.
É como receber um prémio só por dizer que vais correr a maratona, sem teres sequer comprado uns ténis. O teu cérebro interpreta esse reforço positivo como se já estivesses no caminho certo - e adivinha? Isso pode acabar por tirar a pressão e o foco que precisavas para realmente avançar.
Um estudo sobre isto, feito por Peter Gollwitzer, psicólogo da Universidade de Nova Iorque, mostra que, ao dizer os nossos objetivos em voz alta, podemos estar a enganar-nos a nós próprios, criando uma espécie de “ilusão de progresso”. As pessoas que anunciaram os seus objetivos em público acabaram, em média, por fazer menos do que aquelas que guardaram os planos em segredo.
Já para não mencionar que, ao partilhares os teus objetivos em voz alta, com alguém, estás sujeito a ouvir comentários menos positivos, que te possam tirar toda a motivação e fazer desistir.
Mas atenção: isto não quer dizer que tenhas de virar um monge. Partilhar pode ajudar se for com a pessoa certa - alguém que te acompanhe, que te desafie, que te ajude a manter o foco. A chave está no tipo de partilha e no momento certo, até porque os amigos também servem para isso.
Outro truque? Em vez de dizeres "vou começar a ir ao ginásio", experimenta pensar num plano detalhado: "às terças e quintas, às 18h, tenho treino". E guarda isso para ti até já ser rotina. Falar dos detalhes connosco próprios, escrever num caderno, usar uma app - tudo isso mantém o cérebro em modo "ação", sem atalhos para a recompensa precoce.
E depois há outro lado bonito disto: o prazer de surpreender. Porque uma coisa é dizer "vou lançar um projeto". Outra bem melhor é aparecer, meses depois, e dizer: "está feito, espreita aqui!". O impacto é maior, a validação é mais real, e - mais importante - a conquista é mesmo tua.
Por isso, se andas a guardar os teus planos em segredo, não te sintas estranho. Estás só a proteger o teu futuro. A ciência está contigo. E lembra-te: há planos que florescem melhor no silêncio.