Se há algo que parece fazer parte das casas portuguesas são as persianas. Presentes em quase todas as janelas, muitas vezes nem nos damos conta da sua ubiquidade - até recebermos a visita de alguém do norte da Europa, que estranha ver tantas janelas cobertas por estruturas móveis. Esta diferença arquitectónica, longe de ser mero acaso, tem raízes profundas que combinam clima, história, cultura e até religião.

Num país como Portugal, onde os verões são quentes e os dias de sol abundantes, as persianas desempenham uma função essencial: regulam a entrada de luz e calor, ajudando a manter os interiores frescos. Da mesma forma, no inverno, ao serem fechadas durante a noite, funcionam como uma barreira térmica adicional que ajuda a conservar o calor acumulado durante o dia, melhorando o conforto térmico e permitindo poupanças energéticas consideráveis.

Mas o papel das persianas não se esgota na questão climática. Em Portugal e em muitos países do sul da Europa, a privacidade é um valor central na forma como se habita a casa. A possibilidade de controlar quem vê e o que se vê da rua é algo culturalmente valorizado, especialmente em centros urbanos mais densos. Em contraste, países como a Suécia, os Países Baixos ou a Dinamarca, onde a tradição protestante valorizava a transparência e a exposição como símbolos de honestidade, é comum encontrar casas com janelas totalmente visíveis do exterior e sem qualquer tipo de cobertura.

Segundo o jornal espanhol, há também uma raiz histórica menos visível, mas não menos significativa: a influência árabe - que se estende também a Espanha. Durante séculos de presença islâmica na Península Ibérica, sistemas como os muxarabis - estruturas em madeira rendilhada que permitiam ver sem ser visto -inspiraram soluções arquitetónicas que equilibravam luz natural, ventilação e privacidade. As persianas, tal como as conhecemos hoje, são herdeiras diretas dessa lógica de conforto e discrição.

Nos dias de hoje, este elemento tradicional evoluiu. Já não se trata apenas de uma proteção de madeira ou PVC que se enrola manualmente. Muitas casas modernas recorrem a persianas elétricas, programáveis, que se ajustam automaticamente conforme a hora do dia ou a temperatura ambiente.

Assim, o gesto aparentemente simples de subir ou descer uma persiana carrega consigo séculos de adaptação ao clima, heranças culturais profundas e até valores sociais.