Quantas vezes já ouviste: "Não terminaste o prato porque estavas cheio e agora tens espaço para a sobremesa?".

É que é mesmo assim: se colocasses mais uma garfada na boca, correrias o risco de ficar enjoado o resto do dia, mas consegues arranjar espaço para a sobremesa. Como se explica este fenómeno?


Parece que temos um "estômago extra" reservado só para sobremesas e a ciência tem uma explicação para isso.

"Estômago para sobremesa": mito ou realidade?
É quase automático: acabamos um prato generoso de comida e, mal chega a ementa das sobremesas, o apetite reaparece como por magia. Não acontece com peixe grelhado. Nem com arroz de pato. Mas vemos um leite-creme tostado e lá vamos nós.

A boa notícia? Não é falta de força de vontade. É biologia, segundo o site da BBC.

A culpa é dos nossos antepassados
Recuemos 50 mil anos, à savana africana. Os nossos antepassados caçavam para sobreviver, por exemplo, um antílope podia custar-lhes 2.000 calorias de esforço para capturar. Mas… como não sabiam quando voltariam a comer, não podiam ficar-se apenas pelas calorias "necessárias".

A natureza arranjou uma solução engenhosa: o sistema de recompensa no cérebro, que nos faz querer continuar a comer mesmo depois de estarmos cheios - desde que os alimentos sejam muito calóricos, como é o caso das sobremesas.

Porque é que o cérebro quer açúcar e gordura?
Quando já estamos "tecnicamente" saciados, o corpo deixa de pedir grandes porções, mas o cérebro ativa a procura por alimentos mais densos em energia: ricos em açúcar e ricos em gordura.

E adivinha quais são os alimentos que combinam esses dois elementos? Sim, as sobremesas. O famoso "estômago para doces" é, na verdade, uma estratégia evolutiva de sobrevivência.

Os ursos também fazem isso (só que sem profiteroles)
Este comportamento não é só nosso. Um exemplo vem dos ursos-pardos na América do Norte. Durante as corridas do salmão, comem peixe como se não houvesse amanhã. Mas, à medida que ficam mais cheios, passam a comer apenas a pele e a gordura do salmão - a parte mais calórica.

Ou seja, até os ursos têm o seu "estômago de sobremesa".

Agora o problema, atualmente, é que a realidade mudou e muito. Já não temos de caçar para comer e já não vivemos em ciclos de escassez e abundância. Vivemos em ciclos de abundância e… abundância.
Aquele pedaço de cheesecake ou tarte de limão já não é uma necessidade energética - é puro prazer. E embora não precisemos, vamos sempre arranjar espaço. Porque o cérebro ainda vive no tempo da savana.

Por isso, da próxima vez que alguém gozar contigo por pedires mousse de chocolate depois de um belo cozido, podes responder com confiança: a culpa é da biologia.