Durante o ano, nem te lembras que existem, é o último bolo que pedirias numa pastelaria e depois, na praia, não resistes a comer uma, todos os dias?

Este fenómeno da bola de Berlim na praia é uma circunstância muito portuguesa, que ninguém sabe muito bem explicar e que é quase transversal a todos os gostos e a todas as gerações desde há, pelo menos, 50 anos.


“Com creme ou sem creme?” é a pergunta que o senhor ou a senhora das bolas faz repetidamente. Na minha praia é o Sr. João que vende as bolas de Berlim e que as apregoa, nas suas várias passagens, desta forma “olha a bolinha de Berlim, não engorda, só alarga”. Pois… porque a bola de Berlim é, de facto, um bom concentrado de muitas calorias a que ninguém resiste, nas praias portuguesas. E este fenómeno da “bola-de-berlim-nas-praias-portuguesas” já foi até tema de um artigo no El Mundo.

Como é que o berlinense Pfannkuchen veio parar às praias de Portugal, numa versão tão aportuguesada, pois tirando a forma redonda – e, por isso mesmo fácil de comer, dizem alguns – quase em nada se parece com a bola berlinense que lhe deu origem?


A original chama-se Berliner Pfannkuchen ou simplesmente Berliner e é diferente das nossas bolas de Berlim. Existem sem recheio ou recheadas com compotas de frutos vermelhos. Por fora podem ser ou não polvilhadas com açúcar, mas em pó.




E foi, de facto, uma casualidade da História que trouxe este bolo berlinense para Portugal.


Durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal manteve a neutralidade face à guerra o que fez com que o nosso país fosse escolhido por muitos refugiados, fugidos do nacional socialismo alemão, como ponto de passagem para daqui atravessarem o Atlântico rumo às Américas.


Acontece que muitos destes refugiados da guerra ficavam largos períodos de tempo a aguardar, em Portugal, por uma possível travessia, pelos respetivos documentos e por todas as diligências necessárias para rumarem ao continente americano. Durante esse tempo de espera, muitos deles acabaram por trabalhar em pequenos comércios e empresas, alguns ligados à pastelaria, e foi por esta altura que começou a aparecer doçaria inspirada na confeitaria alemã.


A bola de Berlim terá sido a que mais vingou e também a que mais se aportuguesou, uma vez que os pasteleiros rapidamente criaram, digamos, uma versão mais portuguesa do berlinense Pfannkuchen.


A farinha usada para a confeção é diferente da que é usada na Alemanha, a nossa bola é frita, o creme para o recheio é de ovo (bem ao gosto português dos doces conventuais), o açúcar por fora é granulado e não em pó e o tamanho é, de uma forma geral, um pouco maior e mais redondo do que o alemão que tem um feitio pequeno e mais achatado.



Certo é que o feitio em esfera é de fácil manuseamento e transporte (o bolo não se danifica nem se amachuca) e é, portanto, ideal para um “snack”. Passou a ser vendido nas ruas de algumas cidades. Daí, para a venda, também ambulante, nas praias, foi um pulo.


É já um clássico nas praias portuguesas, de norte a sul do país. Mesmo todos nós que nem olhamos para uma bola de Berlim, durante o ano, comemos – com ou sem creme – algumas, durante os nossos dias de praia.


Antes de passarmos à pertinente questão das calorias da bola de Berlim, vamos perceber como é a textura e o sabor da bola de Berlim original, na Alemanha.

A textura e o sabor são mais parecidos com o nosso pão de leite, mas menos doce e mais claro, por dentro e por fora. A aparência exterior não é gordurosa nem tem aspeto de frita porque é cozida no forno.


Quanto às calorias, é respirar fundo e pensar que só se come de vez em quando, na praia. Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde uma bola de Berlim sem creme tem cerca de 400 calorias e com creme tem entre 500 a 600 calorias.


Feitas as contas, é comer, mas com moderação!