Os pais educam e os avós deseducam.
Já todos ouvimos isto e, muitos de nós, já passámos por isto.
A verdade é que é espetacular podermos ter avós presentes. Tanto pelas crianças, como pelos pais, como pelo avós.
Primeiro, porque é bom ter um sítio para os depositar enquanto vamos beber copos com os nossos amigos. Segundo, no dia a seguir, podemos dormir um bocadinho mais, em vez de irmos para o sofá sofrer a ver os desenhos animados.
Os avós são incríveis, benevolentes… sempre com uma nota extra e uma enorme falta de noção. “Toma lá 10 euros para comprares uma pastilha.” Quase como se não soubessem o valor de mercado de uma pastilha…
Os avós sabem, mas faz parte do jogo. Dão coisas que os pais não deixam… seja comida proibida, seja acesso incondicionado ao telemóvel.
O “Não” dos avós não é o mesmo “não” dos pais… é mais suave e contornável. Também sabem ser duros, é certo, mas não carregam a frieza da educação maternal e paternal.
O avós partem-se a rir com as idiotices dos netos, quase na mesma medida em que os pais suspiram.
E os pais às vezes não percebem porque é que os avós são assim.
Para os pais é estranho porque veem os pais deles como nunca os viram. De repente são permissivos, pacientes, disponíveis e, muitas vezes brincalhões… como, se calhar, não foram para eles.
De repente, o nosso pai sério e disciplinador, está de gatas a fingir de cavalo para o neto, enquanto canta o babyshark.
“Quem é o senhor e o que fez ao meu pai?”
É bonito, mas ao mesmo tempo é meio injusto.
Há uns anos, li algures que a forma comos os avós tratam os netos era quase como se fosse um pedido de desculpas aos filhos.
Um pedido de desculpas a nós, que nos fazem através dos nossos filhos… se calhar estão a dedicar-lhes o tempo que não nos conseguiram dedicar. É uma sensação familiar, não é?
Praticamente todos os pais já pensaram que gostavam de ser melhores pais, de ter mais tempo e de ser mais pacientes. (eu já. Todos os dias)
Às vezes chegamos a casa, cansados, depois de um dia de trabalho que vem depois de uma noite mal dormida, que vem depois de um dia de trabalho, que vem depois de uma noite mal dormida, e por aí fora…
E, sinceramente, nesses casos estamos longe de ser uma versão boa de um ser humano… quanto mais uma versão boa dos pais que queremos ser.
Por isso, é que é importante que os avós estejam lá, para “deseducarem”, para darem, à falta de uma palavra melhor, “amor”.
Quando formos nós os avós, vamos ser parecidos… e os nossos filhos não vão perceber e vão refilar, até chegar a vez deles de serem avós.
É uma espécie de um ciclo de pedidos de desculpas infindáveis, porque a grande injustiça é que ter filhos está, regra geral, associado à altura da vida em que temos pouco tempo para ser pais.
A altura em que temos de dar tudo pela carreira, em que temos que provar mais, em que nos importamos com muita coisa…
E quando acalma… Puff, olha os miúdos cresceram.
Se tivermos sorte, a dada altura, temos netos para compensarmos, tanto por eles, como por nós…
E aí vamos poder ser nós a deseducar.
Porque pais educam… e os avós deseducam… e ainda bem.