Acabei os meus espectáculos de Stand up.
Quer dizer, acabei o “Luzes”, o espetáculo que criei para fazer este ano.
“O que é que eu tenho a ver com isso?”, pergunta o bonito leitor, de forma, se me permite, um bocado geniosa.
Na verdade, nada. Peço desculpa por ter incomodado.
Contudo, há uma sensação comum a todos nós, e essa sensação é, quando acaba alguma coisa, seja uma fase da nossa vida, seja um projecto de paixão, seja uma relação, sentimos um vazio.
Um vazio silencioso que queremos preencher de alguma forma, com qualquer coisa.
É como se fosse uma sensação de domingo, quando termina o fim-de-semana, mas multiplicada por mil.
Como se fosse aquela depressão de setembro, que sejamos sinceros, é só o domingo dos meses do ano. (prometo que isto faz sentido, se tivermos muita vontade que faça).
É uma espécie de nostalgia, misturada com alívio e com um “e agora?”
Sinto-me um bocadinho como se estivesse simultaneamente apaixonado (e se calhar até estou), e de coração partido (que de certeza estou).
Quando algo está tão presente dentro de nós, e queremos falar sobre isso, mas não há ninguém que o sinta como nós…
Não é, na sua génese, tão diferente de, por exemplo, quando acabamos de ler um livro, daqueles muito imersivos que nos leva a ficar a ler até às 3 da manhã, e, quando finalmente acabamos, na quietude, não temos ninguém com quem falar sobre isso.
Porque naquele momento, quase ninguém se sente como nós nos sentimos.
(Uau, que dramático Duarte. Não estás a exagerar nem nada)
Claro que estou a exagerar “Segunda voz”. Mas isso faz parte destes momentos, são emocionais, e uma pessoa tende a sentir tudo em demasia, como quando está apaixonado.
Por isso fica a questão “como é que ultrapassamos um livro?”
Como com quase tudo na vida, começamos outro.
Não há de ser muito diferente nos projectos e nas paixões.
Portanto apaguei as “luzes”, hei de ligar outra coisa.
É alisar o casaco, sacudir o pó dos sapatos, levantar a cabeça, lavar a cara, e vamos.
Prontos para outra. Ou vá, a dada altura, havemos de estar.