Se há semana atípica é a semana entre o Natal e o Ano Novo. Algumas pessoas aproveitam para tirar férias nesta altura, outras vão trabalhar em modo cruzeiro - a menos que trabalhes numa loja ou shopping e todos - quase todos - se deparam com uma inércia nunca antes sentida noutros dias do ano.

O Natal terminou e há um sentimento de animação suspensa, onde nada acontece e tudo é possível ao mesmo tempo. Se há semana onde a inércia e o não-fazer-nada é permitido é esta.


O limbo temporal absoluto
Os dias entre o Natal e o Ano Novo não têm identidade. É como se a semana se libertasse de qualquer compromisso com a realidade. A véspera de Natal tem aquele saborzinho a sábado à noite e o dia 25 de dezembro grita por domingo. Isto é o suficiente para nos trocar as voltas e nos perdermos nos dias.


Sobras: a dieta oficial

O frigorífico torna-se um labirinto de tupperwares empilhados como um jogo de Tetris. Cada refeição é um remix criativo: o peru vira empadão, o bacalhau transforma-se em pastéis, e o bolo-rei é um pequeno-almoço muito aceitável. Aqui não há planos detox, porque as sobras são muitas e há que aproveitá-las.


Dias mais melancólicos

A semana entre o Natal e Ano Novo carrega uma melancolia específica, onde ainda estamos a "ressacar" do Natal e o tempo se arrasta, interminável e prolongado.





Reinvenção ou total estagnação?

Enquanto uns tentam organizar a vida com limpezas e promessas de novos hobbies, a maioria sucumbe ao luxo de desistir, como defende Helena Fitzgerald no The Atlantic: esta é a "semana do nada", em que é aceitável não fazer absolutamente coisa alguma.



Séries, sandes de peru e pijama
O conceito de produtividade tira férias nesta época. O plano é não ter planos. Sentares-te no sofá, de pijama, com um prato de rabanadas, a ver o que sobrou das listas de séries. "Dead Week", como a chamam, é o oposto de um feriado – um espaço onde simplesmente existimos, sem expectativas.


Reflexões filosóficas

Esta é a altura em que filosofamos sobre a passagem do tempo enquanto devoramos os últimos pedaços de tronco de Natal. O escritor canadiano Jeet Heer sugere que esta melancolia pós-Natal é inevitável: é como se os ossos doessem e o espírito precisasse de um reset. Aproveita para escrever já o que queres alcançar ou fazer no ano de 2025.

Apesar da confusão, há algo de mágico nesta semana. Entre meias novas, tardes no sofá e o conforto das sobras, percebemos que, de alguma forma, este é um dos momentos mais humanos e universais do ano: a pausa antes do recomeço, o vazio antes da promessa de um novo ciclo.

Aproveita esta altura para fazeres aquilo que não conseguiste ao longo do ano, por falta de tempo.