​Bebés 2020 - A carta que a Inês Andrade escreveu para a filha

CRÓNICA DE UMA CARTA EM TEMPO DE PANDEMIA

INÊS ANDRADE
INÊS ANDRADE

Bebés 2020

Esta é a carta que um dia quero ler à minha filha quando me perguntar “como foi o ano em que eu nasci?”:

"Querida Carminho, Quando estava grávida de 3 meses, em março, começou o primeiro confinamento. O mais drástico da história.

O mundo parou. O barulho dos carros foi substituído pela música dos passarinhos. A mãe ia às ecografias sozinha. O pai bem queria estar presente, mas não deixavam.

Estivemos enfiados em casa quase 5 meses. A mãe a fazer rádio a partir da sala e o pai a trabalhar no teu quarto.

Juntos inventamos receitas novas deliciosas que tu agora já deves ter experimentado. Fizemos 2 puzzles gigantescos que ocupavam a mesa de jantar quase toda.

Sonhamos os dois, entre quatro paredes, como te íamos receber.

Em junho tu chegaste, por pouco não tinhas o pai a assistir ao parto. Não houve visitas no hospital que, em contrapartida, nos trouxe mais descanso.

Nos primeiros meses só conheceste a família mais próxima.

Fizemos muitos passeios higiénicos para conheceres as árvores e o céu e aos poucos fomos deixando o medo de lado para conheceres as pessoas e este mundo estranho.

Espero que hoje tenhas toda a liberdade que não conseguimos ter quando nasceste.

Espero que o mundo seja um sítio mais tranquilo.

Já o nosso amor por ti continua a ser o maior."

Inês Andrade


Crónica publicada no jornal Destak de 17 de Setembro 2021



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