Joaquina, a portuguesa que se tornou costureira da rainha de Inglaterra

Aos 29 anos, Joaquina Rodrigues decidiu mudar de país. Partiu de Esmoriz em direção a Londres e por lá ficou até aos 50 anos, ano em que se reformou e voltou para Portugal. Os anos que passou em Inglaterra foram muito ricos, únicos e com um trabalho que lhe traz memórias muito boas.

Emigrou para ser dama de companhia da embaixatriz do Paquistão, mas não se aguentou muito tempo com essa profissão. Foi ainda ama até se tornar costureira da rainha Isabel II de Inglaterra. Em entrevista ao "Público", Joaquina recorda o seu percurso profissional. Não especifica como é que chegou a costureira da rainha de Inglaterra, mas revela a complexidade e a minúcia deste trabalho.

A perfeição pode não existir, mas o trabalho de Joaquina tinha de ser o mais próximo disso. Costurou o manto real da rainha Isabel II e bordou peças de ouro de valor inestimável. Por mais pequena que fosse a falha detetada, esta teria de ser remediada. E foram várias as vezes em que o trabalho voltou para trás.

As horas de trabalho eram passadas com a máxima concentração e apenas falava com as colegas nas pausas de almoço e lanche. Apesar de ter um trabalho muito rigoroso e com alguma responsabilidade - afinal não são todos que costuram para a rainha de Inglaterra -, Joaquina recorda com saudade essa fase da vida.

Apesar de nunca ter privado com a rainha, partilhou várias vezes o mesmo espaço que ela. Era convidada para algumas das cerimónias e esteve presente na comemoração dos 25 anos de reinado, o chamado Jubileu de Prata, em 1977. Uma das coisas que destaca da rainha é a sua "gentileza".

Quando o marido adoeceu, Joaquina teve de passar a exercer o seu trabalho a partir de casa. Recebia o manto da rainha em mãos, dentro de um cofre, para fazer os apliques em ouro. Foi assim até aos 50 anos, idade em que se reformou e voltou para Portugal. Hoje, com 88 anos, Joaquina deixou de costurar e vive uma vida tranquila em Esmoriz. Inscreveu-se na Universidade Sénior, e nos tempos livres lê a Bíblia e joga às cartas com a irmã, tal como conta ao "Público".