Eu não sou brilhante.
É importante estabelecermos dois pontos logo de início.
O primeiro é que tenho quase 40 anos, sou meio burro. O segundo é que tenho “monocelha”.
Para quem não sabe o que é monocelha, é quando as nossas sobrancelhas são tão fortes e robustas que estão unidas no centro, fazendo uma grande e farta sobrancelha única. Fica uma espécie de ponte aérea de pilosidade por cima do nariz e dos olhos.
No fundo, é uma espécie de bigode na testa.
O propósito da super mega sobrancelha é duplo. Serve para nos manter humildes e para afastar o sexo oposto.
Nós, seres humanos, por definição não temos muita noção de nós. Só notamos as nossas falhas quando alguém as aponta.
Então, eu achava que a minha monocelha era discreta, assim como os meus pelos das orelhas. Eu descobri que tinha pelos nas orelhas porque um barbeiro uma vez me perguntou, “quer tirar os pelos das orelhas?”, e eu ri-me, porque achei que ele estava a brincar. E ele riu-se, porque é bem educado e depois acrescentou, “Mas quer tirar ou não?”
E eu morri por dentro.
Mas pronto, eu tenho monocelha e achava que era discreta até a Mariana Almeida, que é uma pessoa aqui da rádio, no Natal, me oferecer (e a outra pessoa da Rádio) umas bandas pequeninas de cera, acompanhadas de seguinte frase, “Duarte, isto é para tirares a tua monocelha ridícula.”
Importante frisar que a Mariana Almeida é uma pessoa simpática e socialmente muito competente. Não tem nada o tacto social de um mineiro do século XVII.
A sério, não é nada um obreiro selvagem.
Confesso que ignorei esta situação até dar por mim sozinho num hotel durante alguns dias (por andar em tour de stand up). A questão é que quando estou sozinho, e tenho tempo, dá-me para a estupidez, então pensei, “e se eu tirasse a monocelha com a cera que recebi?” Fui à minha mochila, e quis o acaso, que eu tivesse duas bandas pequeninas de cera lá perdidas.
Então lá fui.
Parabéns a mim por esta fenomenal ideia, especialmente tendo em conta que não percebo nada de estética.
Lá apliquei a banda, meio à papo seco, na zona T (que é a zona da cana do nariz até às sobrancelhas onde faz um T, descobri na internet)
Infelizmente apercebi-me que não tinha comigo a caixa das bandas de cera, ou seja, não tinha as instruções. Fui procurar o meu telefone que estava algures perdido pelo quarto, tudo isto com a banda colada no nariz.
Passados uns minutos, encontrei o telefone e vi na net, meio na diagonal como se fazia. Nisto, já a banda estava fundida com a minha pele e, atrevo-me a dizer, com o meu crânio.
Puxei com força, a favor do pelo, como vi nas instruções.
E doeu, bastante. Contudo, não saiu quase pelo nenhum.
Olhei para o espelho, olhei para a banda e pensei “fiz isto mal… é melhor fazer outra vez!” (Eu comecei este texto por dizer que sou burro. Não menti)
Continuando, colei a outra banda e colei bem, desta vez pensei “Isto a favor do pelo não deu nada. E se tentasse contra o pelo?”
E puxei.
Doeu mais… Mas lá saiu pelo. Infelizmente saiu também um excelente bocado de pele e carninha. Fiquei com um bifinho na mão.
Nisto, percebo que era suposto haver umas toalhitas para limpar a cera, e que também não constam.
Mas eu não sou senão uma pessoa cheia de recursos, então molhei a toalha do Hotel (Bem áspera, por sinal) em água quente, e tentei limpar a cera. (Sim, uma toalha áspera quentinha numa queimadura. Duarte: QI - 17)
Enquanto limpava o local do crime só pensava, “Duarte, tu és um idiota. Tu és o comic relief do filme do American Pie”
Resultado: Já não tenho pelo na monocelha. Contudo, tenho uma monocelha na mesma… Uma monocelha de crosta feita de burrice. Uma espécie de um albatroz de vergonha, mesmo no meio da testa.
É assim malta, às vezes mais vale estar quieto e saber envelhecer.
Ouve aqui todos os episódios no Podcast Dudas de un Hombre.