Já viste "Ainda Estou Aqui"? Porque é que Fernanda Torres quase nunca chora?
O papel de Fernanda Torres foge do estereótipo de papel dramático, com choro e cenas dramáticas. A atriz optou por uma força contida e uma resiliência avassaladora, que acabou por conquistar o público
Depois de ganhar um Globo de Ouro e de ser nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, com o papel que interpreta no filme "Ainda Estou Aqui", Fernanda Torres é a atriz do momento!
A atriz traz à vida Eunice Paiva, uma mulher que enfrentou o auge da ditadura militar brasileira com uma força contida e uma resiliência avassaladora. Sob a direção de Walter Salles, Fernanda Torres apresenta uma interpretação que foge aos estereótipos de papéis dramáticos. Em vez de lágrimas ou explosões emocionais, a atriz aposta na contenção e no silêncio, criando um retrato profundamente humano e visceral.
O filme é baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, que detalha os horrores enfrentados pela família após a sua família sofrer um ato violento e arbitrário do governo militar, que mudou o rumo da família. Num contexto de tragédia, Eunice Paiva emerge como uma figura de força extraordinária, equilibrando a criação dos filhos com a luta pela verdade e pela justiça. Contudo, o filme não romantiza essa força; ao contrário, destaca a tensão constante e o fardo emocional que Eunice carrega em silêncio.
Uma das escolhas mais impactantes de Walter Salles foi cortar todas as cenas de choro da personagem. Essa decisão, que poderia parecer arriscada, acabou a ser um dos elementos que definiu a narrativa. Fernanda Torres explicou, numa entrevista ao "Los Angeles Times", que essa abordagem trouxe uma honestidade única ao papel. "Quando se contém a emoção, ela explode de uma maneira muito honesta", disse a atriz. Inspirada pelas palavras da sua mãe, Fernanda Montenegro — "Quando acontece uma tragédia, não há espaço para o melodrama" —, Fernanda Torres incorporou Eunice Paiva como uma mulher que não se permitia desmoronar.
O contraste entre o horror vivido por Eunice e a sua postura é um dos maiores trunfos do filme. Walter Salles, que já havia dirigido Fernanda no aclamado "Terra Estrangeira", voltou a confiar na atriz.
A crítica internacional recebeu "Ainda Estou Aqui" com entusiasmo. A revista "Variety" destaca o facto de Fernanda Torres nunca permitir que o espetador veja Eunice colapsar completamente, criando uma tensão constante que prende a atenção até ao último segundo.
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