Qual foi a coisa mais triste que fizeram num fim de ano?

A mais triste que eu fiz (porque isto é um bocadinho sobre mim) foi ver o fogo de artifício… NA TELEVISÃO.

E se acham que o mais triste que há é ver fogo de artifício na televisão, então ficam a saber que eu nem vi o fogo de artifício da meia-noite em Portugal. Vi o fogo de artifício da meia-noite, em Espanha. Porque dá uma hora antes e eu queria ir dormir.

Eu nunca senti a passagem de ano, e por isso vou falar das piores tradições de réveillon.

Começo com a pior tradição, as 12 passas (uma por segundo).

Primeiro, uma passa é horrível. Então 12 passas, mais horrível é.

Já para não mencionar que não sei quem é que lançou a ilusão de que dá para comer uma passa por segundo. É um dos maiores mitos da história.

Aliás, tenho um amigo que tentou “uma passa por segundo” e ficou com uma broa gigante. “Todo panado, broooo” (era outro tipo de passa)

A tradição original era com uvas frescas (veio de França) e essa eu percebo.

Uvas tem glamour, estamos deitados no divã, todos nus, só de toga, a degustar as uvas enquanto estão a pintar um quadro nosso. Isso sim, grita diversão.

Tradição de porcaria número dois: Bater com as panelas para afugentar o mau ano.

Faz barulho, irrita e no ano passado houve um vizinho meu que deixou cair uma panela do 4º andar.

Afugentas o ano mau e afugentas a vida da pessoa onde essa panela aterrar.

Terceira tradição: Usar roupa nova.

“Temos que vestir uma roupa novinha e umas cuecas novas para entrarmos no ano com sucesso. Ano novo, vida nova!”

Malta, não é. É “ano novo, mesma mer…” eu não posso escrever isto.

Cuecas azuis para quem quer paz e tranquilidade. Cuecas rosa para quem quer amor e festa.

Só é meio aborrecido quando, como casal, não estamos alinhados, não é?

Bom, adiante.

Não é bem uma tradição, mas há quem goste de comer bem, no fim de ano. Um repasto para fingir que não foi pobretanas durante o resto do ano.

“Ahhh vamos comer camarão tigre. Vamos comer lagosta. Carabineiros.”

“Mas quem é que estás a tentar enganar Marina Isabel? Comeste sandes de panado 75 vezes este ano. Não tem mal nenhum, mas sê honesta.”

Há aquela tradição dos filmes e das séries: Ter alguém para beijar na boca à meia-noite. Isto é uma coisa muito americana e eu até poderia gostar desta tradição, mas passei muitas vezes as noites de fim de ano só com os meus pais.

Realmente, ao fim da quarta, quinta vez, já cansa. Não dá para convidar uma tia?

E aquelas pessoas que têm, porque têm, que dar um mergulho no mar? Não estás no Brasil, a água está horrível e estão 5 graus cá fora.

Na verdade, até percebo porque depois disso o ano também só pode ficar melhor.

A maior tradição no mundo inteiro, e que fazemos todos anos, é, acho eu, forçar a diversão. É fingirmos que estamos felizes e que queremos imenso esta festarola.

Está frio, os dias estão pequenos, ninguém tem bom aspecto (para as fotos), e estamos de ressaca do Natal.

Eu sugiro mudarmos o fim do ano para o verão. Acho que resultaria melhor.

Pelo menos não pareceria tão forçado.

Não obstante, este ano já tenho programa.

Às 11 da noite estou a ver o fogo de artifício de Espanha, depois dormir.

Para o ano há mais.



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