Tenho tido frio.

Às vezes ao fim do dia, ou de manhã, tenho arrepios. Quando me levanto a meio da noite e os meus pés assentam no chão frio, a sensação surpreende-me sempre. Eu sei que ainda é inverno, mas, diabo, já é quase primavera, podia estar mais confortável, e talvez estivesse, não fossem tempestades atrás de tempestades. Todas as semanas uma nova.

Aproveito este clima mais agreste, para abordar uma situação que já me incomoda há uns tempos, mas à qual acho que não tenho dado a devida atenção.

Para contexto: Eu, enquanto escrevo estas palavras carregadas de significado, tenho em cima do meu corpo, uma t-shirt, uma camisa, por cima da t-shirt, uma camisola quente, por cima da camisa. Tenho ainda um casaco quente e seco para quando for para a rua enfrentar o clima.

Quando estava a levar o meu filho à escola, de manhã cedo, deparei-me com um pai na mesma situação que eu, a deixar o filhote, contudo, não pode não notar que o pai estava e, não estou a gozar, de CALÇÕES E T-SHIRT!

Dude, o quê?! A sério, quem é que estás a impressionar?

Estás a tentar vencer o inverno pelo cansaço?

Porquê? Não gostas de sentir as canelas presas? Não tens sensibilidade?

É que se estão assim no inverno, no verão andam como? Todos nus?

Sem pele? Osso, nervo e músculo à mostra, como se fossem uns sem vergonha? Não acho nada bem.

Na verdade, estas pessoas, regra geral, andam assim, de calções e t-shirt, durante o ano todo. Portanto, vou acreditar que têm um termostato próprio regulado constantemente para 23/24 graus.

“Ahh para mim não está assim tanto frio!” dizem.

Como assim? Estão 9 graus de manhã. É frio. Eu vejo a minha respiração. Aquela nuvem branca de condensação respiratória é a forma da natureza te dizer, “mete um agasalho!”. Quem és tu para ignorar a natureza?

“Ahhh o frio é psicológico!”, reforçam

Não é. Eh pá, desculpem, mas não é.

Não é psicológico. Sabem como é que eu sei que não é psicológico?

Porque não vou resolver o frio ao psicólogo.

“Então porque é que está aqui, menino Duarte?” (o psicólogo trata-me por menino, porque é como eu me vejo, ainda hoje. Os psicólogos sentem estas fragilidades.)

Então, olhe ando com uma situação psicológica, ultimamente.

É que, olhe, tenho frio. E dizem-me que o frio é psicológico.

“Ahhhh e é, e é! Fez bem em vir.” replica o psicólogo ajeitando os óculos.

“Isso normalmente significa que os seus pais não gostavam de si… e que você é inseguro.”, acrescenta, rabiscando notas no bloco amarelo que apenas ele consegue entender.

“Teve algum animal de estimação em pequeno que deixou morrer por trapalhice?”, eu aceno com a cabeça

“Uiiii… pois. O Frio pode vir daí”

As pessoas que andam de calções e T-shirt o ano todo não têm problemas psicológicos. Aliás, elas chegam ao psicólogo e dizem ao psicólogo para ELE se sentar no divã.

“Então conte-me, psicólogo, como era a sua relação com os seus pais?”, perguntam cheios de propriedade.

Também pode ser ao contrário, como não foram abraçados em criança desenvolveram pele grossa, mas vou ignorar essa tese porque não me serve para este texto.

De qualquer forma, é com tristeza que digo que o meu psicólogo não conseguiu resolver o meu problema do frio e mandou-me para um psiquiatra. Felizmente o psiquiatra lá arranjou uma solução e prescreveu-me, um Casaco. Aborrece-me ter que recorrer a medicação, mas a vida tem destas coisas.

Fica aqui um abraço para todos os guerreiros que andam de manga curta e calções o ano todo, e para a menina, no outro dia vi no meio de uma chuvada, a correr, de calções e chinelos.

Força nisso! A chuva é psicológica!



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